quarta-feira, 22 de abril de 2015
Acusadores
Surge uma polêmica e logo aparecem os acusadores, gente cheia de razão falando um monte de coisas que não dizem absolutamente nada sobre a relação entre Deus e a humanidade.
Antecipo aqui o objetivo deste artigo, não há nenhuma intenção de questionar ou criticar o posicionamento de qualquer pessoa que se apresente com a aparente intenção de defender os valores da família com base nos princípios cristãos. O objetivo exclusivo deste é compartilhar uma reflexão sobre como certos procedimentos adotados nestas defesas podem resultar em oportunidades perdidas de revelar ao mundo o alcance da Graça de Deus e o valor do sacrifício de Cristo.
Será que a nossa razão aumenta com o volume de nossas vozes, será que nos tornamos mais convincentes ou espiritualmente mais poderosos quando gritamos? Será que para alertar o mundo sobre sua condição é preciso impor em vez de expor a Palavra de Deus? Ou será que, ao contrário do que parece, quando agimos assim ou concordamos com quem age assim, não passamos de um bando de acusadores, confortáveis em apontar o dedo para os outros com a intenção de deixá-los em evidência enquanto tentamos nos ocultar dos outros e de Deus.
Estamos tentando proclamar o Deus de amor atacando nossos próximos como se fossem inimigos, mas eles não são [Efésios 6:12], e não são poucas as vezes em que descarregamos toda a nossa fúria, nossos gritos e apontamos nossos dedos não para defendermos a verdade, mas porque tentamos esconder nossas mentiras!
Não é nada sábio, para nós cristãos, esquecermos que o apóstolo Paulo que nos instrui sobre a influência da natureza pecaminosa do homem nas questões sexuais gerando tanto o adultério e a fornicação, quanto as práticas homossexuais, é o mesmo que nos deixou instruções sobre como devemos defender as verdades bíblicas:
Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade. — 2 Timóteo 2:24-26 (NVI)
Muita gente inocente já sentiu na pele a fúria e o julgamento de líderes religiosos hipócritas. Até mesmo Jesus Cristo foi desprezado por ser considerado bastardo pelos líderes religiosos de sua época que acusavam sua mãe de ser adúltera. Curiosamente o apóstolo João registrou [João 8: 1-11] que um dia, estes mesmos líderes levaram até Ele uma mulher adúltera para ser julgada. Bom, se isto não for hipocrisia é uma coisa bastante parecida. O que Jesus fez? Não levantou nenhum dedo de acusação, nem exerceu juízo, quer sobre aquela mulher e muito menos sobre seus denunciantes, antes constrangeu cada um dos acusadores daquela mulher pedindo para que consultassem suas próprias consciências. Jesus sabia que todos ali tinham seus pecados, mesmo que nenhum deles fosse adúltero como a mulher que acusavam. Aos poucos, todos saíram da presença de Jesus, cabisbaixos, sem qualquer argumento para acusar nem a Jesus, nem aquela mulher. E no fim, ela foi perdoada enquanto seus acusadores permaneceram reféns de suas culpas.
Quem é nosso exemplo? A quem estamos imitando? Onde ou quando foi que deixamos de lado a Graça de Deus para começarmos a apontar dedos e acusar? Se seguíssemos o exemplo de Jesus não tenho dúvidas de que teríamos muito mais pessoas constrangidas ao arrependimento do que revoltadas com a agressividade de alguns líderes religiosos que se defendem dizendo que “a verdade provoca a ira de quem é confrontado por ela”. Quando a verdade é exposta com amor pode até provocar raiva em quem a ouve, mas jamais manifestará ódio em quem a apresenta, o que provoca isto é a insegurança.
A intolerância pode ser aproximadamente definida como a indignação dos que não têm opinião. — G. K. Chesterton
A convicção é algo tão distante da intolerância quanto a humildade é próxima de quem age com tolerância! Não acredito que conseguimos empurrar qualquer verdade bíblica “goela abaixo” em ninguém, mas, em muitos casos, apenas conseguimos convencer pelo exemplo. Por mais difícil que possa ser controlar os nossos ânimos, não é coerente desperdiçarmos a manifestação legítima do fruto do espírito, por meio da mansidão [Gálatas 5:19-23], pois assim como “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” [Provérbios 15:1], a agressividade só pode afastar as pessoas ainda mais da verdade.
Não se trata de apoiar o erro, mas de saber lidar com quem erra. Até porque, muitos dos ditos cristãos que se enfurecem contra o pecado dos outros apenas privam os outros da Graça de Deus que eles mesmos receberam sem merecimento algum! O que difere uma pessoa que carrega em si, em seu corpo e sua mente, as consequências de uma humanidade decaída e em degeneração como herança do pecado original sendo homossexual de outra que é mentirosa, adultera, desonesta, pervertida, fofoqueira, viciada, maledicente ou ainda julgadora e que estimula o ódio e a confusão? “Quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus?” [Romanos 2:3], pecado por pecado, todos somos culpados.
Certas atitudes apenas denunciam o quanto esquecemos ou ignoramos a misericórdia de Deus que um dia nos livrou de nossos próprios pecados. Pecados que estavam incrustados em nossa natureza pecaminosa e que a qualquer momento podem se manifestar por meio da nossa carne com a qual lutamos a todo instante [Gálatas 5:17]. Quantos hoje, pela misericórdia de Deus, não estão livres do alcoolismo, do tabagismo, do vício em drogas, prostituição ou jogos e agora apontam os dedos aos que ainda não foram libertos? Será que quando agimos assim somos mesmos libertos ou apenas trocamos de escravidão [Gálatas 5:11] servindo a religiosidade?
É trabalho do Espírito Santo convencer, de Deus o de julgar, e o meu é o de amar. — Billy Graham
Não podemos concordar com o pecado, seja qual for, mas também não temos o direito de tentarmos impedir, com a nossa grosseria, que as pessoas conheçam a Graça de Deus que sempre supera qualquer pecado [Romanos 5:20], constrangendo e manifestando o arrependimento. Não temos permissão para proferirmos ou executarmos qualquer sentença, antes, cabe a nós sermos reflexos da Graça e do amor de Deus que se manifestou na Cruz, onde seu filho Jesus Cristo morreu por todos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário