Contarei mais uma história e espero com isso levá-los a ver a necessidade da fé, enquanto me encaminho à última parte do meu discurso:
Um americano dono de escravos, na ocasião de comprar mais um, disse ao mercador com quem estava barganhando:
— Diga-me honestamente: quais são seus defeitos? — O vendedor respondeu:
— Que eu saiba, ele tem só um defeito: ele costuma orar.
— Bem — disse o comprador, — eu não gosto disso, mas conheço algo que vai curá-lo rapidamente desse defeito.
Assim, no dia seguinte o escravo foi surpreendido por seu patrão quando orava com fervor em meio à plantação, intercedendo por este, a esposa dele e sua família. O homem ficou parado ouvindo, e não disse nada no momento; mas, na manhã seguinte, chamou-o e disse:
— Não quero brigar com você, meu homem, mas não quero que ore na minha propriedade; portanto, pare com isso.
— Patrão — respondeu este, — não consigo parar de orar; tenho que orar sempre.
— Vou ensinar você a orar se continuar com isso!
— Patrão, tenho de orar.
— Bem, vou lhe dar vinte e cinco chicotadas por dia até que você pare.
— Patrão, mesmo que me dê cinqüenta, tenho de orar.
— Se é assim que você é rebelde com seu patrão, vai ter logo o que merece.
— O patrão amarrou-o no pelourinho, deu-lhe vinte e cinco chicotadas e perguntou se iria orar de novo.
— Sim, patrão, tenho de orar sempre; não consigo parar. O patrão olhou atônito; não conseguia compreender como um pobre santo podia continuar orando quando não parecia lhe fazer nenhum bem, só perseguição. Contou à sua esposa do ocorrido. Sua esposa lhe disse:
— Por que você não pode deixar o pobre homem orar? Ele faz bem o seu trabalho; você e eu não ligamos para a oração, mas não há mal algum em deixá-lo orar, se ele cumprir com suas tarefas.
— Mas eu não gosto disso — disse o patrão. — Ele sempre me deixa muito assustado. Você devia ver como ele olha para mim.
— Ele estava com raiva?
— Não. Eu não devia me preocupar com isso, mas depois que eu o tinha surrado ele olhou para mim com lágrimas nos olhos, como se tivesse mais pena de mim do que de si mesmo.
Naquela noite o patrão não conseguiu dormir. Ele rolava na cama de um lado para outro; seus pecados lhe foram trazidos à memória, e ele se conscientizou de que tinha perseguido um santo de Deus. Sentando-se na cama, ele disse à sua esposa:
— Mulher, você poderia orar por mim?
— Eu nunca orei em toda a minha vida — ela respondeu. — Não sei orar por você.
— Estou perdido — disse ele, — se alguém não orar por mim; não posso orar por mim mesmo. — Eu não sei de ninguém aqui na propriedade que saiba orar, a não ser Cuffey, o novo escravo — disse sua esposa. Fizeram soar a campainha, e Cuffey foi trazido. Tomando a mão de seu servo negro, o patrão disse:
— Cuffey, você pode orar por seu patrão?
— Patrão, estou orando pelo senhor desde que me chicoteou, e pretendo orar sempre pelo senhor. Cuffey caiu de joelhos e derramou sua alma em lágrimas, e ambos, marido e esposa, foram convertidos. Aquele homem não poderia ter feito isto sem fé. Sem fé ele teria ido embora na mesma hora, dizendo:
— Patrão, vou parar de orar; não quero mais o chicote do homem branco.
Mas porque ele perseverou por sua fé, o Senhor honrou-a e lhe deu a alma do seu patrão por salário.
Charles Haddon Spurgeon em um de seus Sermões
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